terça-feira, 20 de abril de 2010

Ano Darwin - Uso de ferramentas por primatas não-humanos alarga limites da arqueologia - Cabo Verde

Escrito por Gab/Imagem Uni-CV

Thursday, 06/August/2009

Uma equipa científica propõe o alargamento da arqueologia ao estudo das ferramentas usadas por primatas não humanos e a criação de uma nova disciplina dedicada à evolução nessa área.

Num estudo publicado na revista "Nature", os investigadores consideram que a arqueologia de primatas, a nova disciplina, é essencial para conhecer melhor as origens das tecnologias e da cultura material, e a importância do uso das ferramentas na ordem primatas, disse à Lusa a co-autora Susana Carvalho, portuguesa que integra a equipa de cientistas.

A arqueóloga portuguesa está actualmente na Universidade de Cambridge (Reino Unido) a fazer um doutoramento em arqueologia de chimpanzés, tendo para isso estudado a utilização de ferramentas de pedra por estes primatas em Bossou, na República da Guiné, e comparado utensílios simples usados para partir nozes com as primeiras indústrias de pedra conhecidas de hominídeos.

"A arqueologia foi sempre vista como a ciência que estuda a cultura material em humanos", disse Susana Carvalho. "Agora, a partir da investigação que decorre na Guiné-Conacri, com chimpanzés, e no Brasil, com macacos capuchinhos, é necessário alargar essa noção de arqueologia a todas as culturas de primatas, investigando o seu uso passado e actual de ferramentas em habitat natural", frisou.

É que estes primatas não-humanos deixam para trás um registo arqueológico que, na sua perspectiva, pode ser estudado e escavado com as técnicas arqueológicas clássicas.

Segundo o conhecimento actual, as ferramentas humanas mais antigas datam de há 2,6 milhões de anos. Mas não se sabe exactamente quem foram os seus autores devido à coexistência nesse período de vários hominídeos, sendo que o Australopithecus garhi tem vindo a surgir como o mais sério candidato, em detrimento do Homo habilis.

Ao estudar o uso de martelos e bigornas pelos chimpanzés, Susana Carvalho acha possível saber como terão surgido as primeiras ferramentas, em que contexto, que pressões selectivas terão levado a isso ou por que razão só algumas espécies as usam. "Os arqueólogos terão agora que pensar em como distinguir no registo arqueológico o legado material de humanos e não-humanos", sublinha a investigadora.

Num artigo publicado em Maio do ano passado no "Journal of Human Evolution", Susana Carvalho descreveu a descoberta que fez em Bossou do quebra-nozes de pedra mais complexo construído por chimpanzés.

Esse quebra-nozes era constituído por quatro elementos de pedra, um martelo, uma bigorna e dois calços, quando só eram conhecidos instrumentos com três componentes.

O estudo publicado na Nature apresenta pela primeira vez um quadro comparativo que permite compreender os contextos biológicos, ambientais e sociais da evolução do comportamento dos primatas, através de análises da produção, utilização e acumulação de ferramentas.

Para os investigadores, a selecção de matéria-prima, a distinção das funções das ferramentas, o surgimento da posse e a reutilização preferencial das mesmas ferramentas levantam questões como saber se é possível distinguir entre registos arqueológicos humanos e não-humanos ou se é necessário rever a noção de pré-história baseada no antropocentrismo.

Susana Carvalho participou neste estudo integrada no Pounding Tool Working Group Research, coordenado por Jack Harris (Rutgers University, Museu Nacional do Quénia e Koobi Fora Field School). Faz também parte da equipa internacional do Primate Research Institute da Universidade de Quioto presente em Bossou e do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde da Universidade de Coimbra.

Fonte: Publico.pt
Texto: Lusa

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