sexta-feira, 7 de maio de 2010

Escavações Arqueológicas em Loulé - Banhos Islâmicos

Em Loulé a população e a autarquia juntaram forças e descobriram os primeiros banhos públicos islâmicos (século XIII) que podem ser vistos a olho nu em Portugal.
A descoberta foi fruto de escavações arqueológicas recentes que hoje conheceram mais um capítulo do trabalho voluntário coordenado por profissionais de arqueologia.
A britânica Rose Oliveira, 48 anos, egiptóloga e a morar há mais de 20 anos no Algarve é apenas uma das várias voluntárias da população louletana que participa nas escavações arqueológicas da cidade algarvia.

Com o objectivo de juntar profissionais da arqueologia e população em geral à roda de artefactos e construções islâmicos arrancou no Verão passado com o Festival do Mediterrâneo (MED) e a sorte bateu nas muralhas da cidade de Loulé, onde pela primeira vez em Portugal se pôde ver de perto os banhos públicos islâmicos.
Além das paredes islâmicas, com um metro e 80 de altura de pé direito, que se encontraram dentro da muralha que contorna a cidade, encontramos também as «instalações dos banhos públicos islâmicos que são os únicos em Portugal que se podem ver», porque embora existam outros só se conhecem através de documentos e outros testemunhos escritos, contou a arqueóloga municipal Isabel Luzia.
A egiptóloga Rose Oliveira e a menina Olívia, 10 anos, também inglesa e voluntária nos trabalhos arqueológicos, estiveram ambas esta manhã com picaretes, pás, colherins e baldes à volta dos banhos islâmicos e nem o frio do Inverno as afastou do serviço.

A pequena Olívia, que assegurou à Lusa sonhar em ser arqueóloga quando crescer, foi aluna de Rose Oliveira e pertence ao Clube de Egiptologia em Loulé. Foi assim, através do clube, que soube como participar voluntariamente nas escavações.
Mas nem só crianças e jovens participam nas escavações de Loulé. Reformados, bancários, famílias inteiras, farmacêuticos e domésticas também gostam de dar uma cavadela e carregar uns baldes de terra.

«Acho isto [escavações] viciante, porque temos sempre a ilusão de encontrar algum vestígio! Além disso é um trabalho que tem de ser feito», explicou Cândida Paz, 64 anos, adepta ferrenha das escavações, não falhando ainda nenhuma das quatro saídas para o terreno, e contabilizando 12 horas de trabalho arqueológico.
Com a «ideia de pôr toda a gente a escavar», uma iniciativa dos serviços de Arqueologia e Restauro da Divisão de Cultura da Câmara de Loulé, o objectivo é fazer do espaço da descoberta daqueles preciosos vestígios islâmicos «um espaço museológico», assegurou o responsável pela Divisão da Cultura de Loulé, Luís Guerreiro.

«Criar um espaço museológico é uma mais valia para o turismo cultural da cidade e nasce exactamente na zona histórica», refere Luís Guerreiro, visivelmente orgulhoso com os achados islâmicos.
Com calçado e vestuário apropriados, além da vacina do tétano em dia - as únicas contrapartidas para ali escavar, - todos os ajudantes ganharam já a sensibilidade de que na arqueologia tem de se ser paciente e que nenhum vestígio tem valor se não for devidamente identificado e guardado em sacos de plástico transparentes.

Uma outra recente descoberta foi a de um esqueleto que se pensa ser de um jovem homem que terá vivido há 800 anos e que durante a conquista cristã terá caído da torre islâmica, junto à muralha, especula a arqueóloga, que aguarda os resultados das análises do Museu de antropologia de Coimbra.

«As descobertas foram todas realizadas dentro da Casa das Bicas, até há pouco tempo habitada e que escondia os banhos islâmicos e colunas góticas no seu interior. As descobertas só estão no início, ainda falta mais de metade da casa para investigar», adverte a arqueóloga com um brilho no olhar.

"Com a parceria da autarquia com a UAlg, os alunos do curso de Arqueologia, tiveram e ainda continuam a ter oportunidades de escavar em Loulé, os banhos islâmicos, descoberto há pouco tempo. Estas escavações servem como uma aprendizagem prática inicial para que os alunos tenham um contacto real com o mundo arqueológico, de maneira a aprenderem e a aperfeiçoarem as tecnicas de escavação, para um futuro arqueológico".  


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